
De vez em quando o cinema mistura géneros, a tragicomédia, o drama-musical, até mesmo o cinema dito "real" com a animação. Persepolis podia ser um filme "real". A tempos, esquecemo-nos de que é um filme animado e pensamos que aquelas são mesmo personagens de carne e osso.
Se pensarmos nos inúmeros filmes que têm saído ultimamente sobre o conflito Islâmico, depressa seriamos levados a deixar passar este filme, por ser só mais um. Uma família Iraniana tenta sobreviver durante as décadas de 80 e 90. Na alçada de um regime totalitário em que a liberdade, particularmente para as mulheres, é inexistente, seria um bom mote para uma tradicional história dramática. No entanto, acabando inevitavelmente por também o ser, não é a componente dramática que dá valor a este filme. Uma vez que se trata de uma animação, tem maior liberdade para deixar a imaginação pintar o cenário. Umas vezes a cores, na maior parte a preto e branco.
Marjane 'Marji' Satrapi é o centro do filme, através dela percorremos as duas décadas e ficamos a conhecer, na sua perspectiva, a vida de uma jovem iraniana. É uma peça sobre cultura, sobre a tolerância nos nossos dias. De uma forma quase infantil aceitamos uma realidade com a qual não estamos habituados a lidar. É dessa forma que a animação faz todo o sentido. Transforma a verdade bruta numa fábula, num conto (sem as fadas) mas com todos os outros elementos fantásticos de uma história de crianças.
Marjane não é Alice no País das Maravilhas, não é a Gata Borralheira, nem podia ser. Também não é uma criança como nós, nem é isso que pretendia. Mas é, não obstante, uma criança. Que acredita em Deus até que Ele lhe leva alguém querido, que perde as grandes ilusões da infância ao descobrir que a vida nem sempre é justa. E uma das suas maiores fraquezas é sofrer por amor.
Se mais filmes animados tratassem temas como este, ou pelo menos se esforçassem por não serem só mais uma parvoeira de animais num qualquer país exótico, talvez o cinema de animação fosse levado mais a sério.
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